domingo, 5 de junho de 2011

Um sistema de transporte para São Paulo

Esse texto se propõe a complementar o texto “Um sistema de transporte público cicloviário para São Paulo” escrito por Gabriel Kogan (http://cosmopista.wordpress.com/2011/06/04/um-sistema-de-transporte-publico-cicloviario-para-sao-paulo/), acrescentando algumas questões que também merecem a devida atenção.



A C40 reuniu prefeitos de grandes cidades do mundo em torno de questões “sustentáveis” e a grande notícia que tivemos após o seu término é que a cidade de São Paulo pode, em um futuro próximo, ter suas ciclofaixas transformadas em ciclovias durante um dia da semana, ou do mês, ou do ano. É isso? Se propuseram a falar de cidades "sustentáveis" e o melhor que conseguiram foi isso?

Concordo que o tema urbano-bicicletísitco tem ganhado força ultimamente, mas vamos falar um pouco menos de bicicletas e um pouco mais de cidades, de metrópoles, no caso. Como o próprio Gabriel Kogan disse, “O tamanho do problema do transporte urbano na cidade é imenso e apenas soluções sistêmicas de grande porte podem começar a reverter esse quadro”, por isso descordo da “solução simples, pouco custosa e muito eficiente” proposta pelo próprio Gabriel. Se a solução é sistêmica, diz respeito a toda a metrópole e, portanto, não sai barato.

Quando pensamos no “transporte urbano de bicicletas” - com as magrelas sendo utilizadas tanto como atividade de  lazer como para viagens casa/trabalho - pressupomos um sistema de transportes metropolitano, onde a bicicleta esteja inserida e responda a uma demanda de viagens.

A Região Metropolitana de São Paulo é composta por 39 municípios e 20,3 milhões de habitantes. A demanda de viagens diárias por modos motorizados ou não em 2007 era de 38 milhões, hoje já é bem maior. É uma questão de escala, não se absorve esse volume de viagens sem um sistema de transportes minimanete organizado, e não se organiza um sistema de transporte com modos de baixa capacidade.

Ciclistas e motoristas se digladiam no trânsito, mas sofrem do mesmo mal. A metrópole não funciona. É frustrante pagar 30 ou 100 mil reais em um carro para ficar parado no trânsito. Tudo bem, o carro é bacana, o som é bom, tem dvd pra criançada, mas uma hora o cd terminar e o filme também…e você andou uma quadra. De bicicleta é mais tranquilo, o vento bate no rosto, eu não poluo (tá certo? “poluo”?), as vezes chego antes…mesmo assim, pego um buraco capoto e o buzão me atropela, ou desvio de um carro e quem me atropela é o motoboy apressado. Enfim. Não cabe todo mundo.

O sistema de transportes é tão estapafurdio que o enorme volume de viagens é absorvido pelos modos de menor capacidade (quem tiver interesse dê uma folheada na última pesquisa origem e destino, a de 2007), representados pelos automóveis (baixa) e pelos ônibus (média).

O que quero dizer é que no final das contas a bicicleta continua sendo um modo de transporte individual e excludente (como diz um amigo meu), de baixa capacidade. Acho importantíssimo que ela seja defendida como meio de deslocamento na cidade, mas como modo que compõe um sistema e não como a alternativa mais fácil e barata.

Acho que a proposta do Gabriel Kogan, substituindo vagas de automóveis por espaço para as bicicletas, não resolve essa questão pois não se propõe a pensa-las como modo de transporte. Dizer que a falta de vagas vai incentivar o uso da bicicleta é um equívoco. Daí a complexidade da coisa. Não se pode excluir um modo e privilegiar o outro, uma vez que a riqueza de um bom sistema de transportes são as alternativas disponíveis ao usuário. A pergunta permanece: "onde ficam estas ciclovias na cidade?"

Ficam onde o plano de transportes metropolitanos determinar. Quando a sociedade brasileira entender que o planejamento é importante para que esse país funcione talvez tenhamos espaço de sobra pra colocar ciclovias em nossas cidades. Isso leva tempo. Não sei se estarei vivo nem quando a nova linha 4 do metrô estiver concluída, o que dizer do dia em que se fizer planejamento de alguma coisa nesse país.

Enquanto o empregador ditar as regras do nosso “capitalismo tupiniquim”, e continuar se esforçando para a coisa toda não funcionar, o empregado vai continuar sendo o fodido. E ai é como diz Oscar Niemeyer: “ O fodido não tem vez”.

Algumas questões têm que estar muito bem claras. Equanto rolava a C40 e os prefeitos debatiam as experiências bem sucedidas em Estocolmo, Nova Iorque e Paris, a greve CPTM parou a cidade. Não entro no mérito se os funcionários tinham razão ou não, o fato é que cerca de 3 milhões pessoas não puderam ir trabalhar. A linha mais nova do metrô está em construção desde 2004 e até agora não foi entregue. Não me venham dizer que ela está funcionando parcialmente. De que serve uma linha de metrô que te leva de manhã e não te traz de volta de tarde. Não está funcionando, portanto. 

Quando falo de sistema de transportes, modos, capacidades de carregamento e tudo mais, me refiro às migalhas que uma ciclovia e uma ciclofaixa representam quando discutidas isoladamente. A questão da bicicleta como transporte urbano é a mesma do carro, da moto, do ônibus, do trem e do metrô. Não podemos falar de uma coisa sem falar da outra.

Uso a bicicleta diariamente como meio de transporte. São 15 Km por dia. É uma escolha minha, me faz bem, recomendo a todos, mas sinto mais falta de metrô e trem do que de ciclovias na nossa metrópole.



Bruno Taiar